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Como as Constelações Familiares brotaram e criaram raízes na Bahia

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Como as Constelações Familiares brotaram e criaram raízes na Bahia

 

Sou terapeuta há 17 anos e trabalho há 10 anos com as Constelações Familiares e Sistêmicas. Gostaria de  contar como as constelações chegaram à Bahia e como tiveram um caminho bem sucedido, pois isto é um pouco da história e dos primeiros momentos da disseminação deste trabalho em nosso País.

Junto a minha colega Cátia Lymma ouvi falar das Constelações Familiares pela primeira vez, em um curso de terapia psico-corporal que fazíamos em Brasília em 1998, através de colegas que haviam assistido a um trabalho do Prof Lorenz Wiest num congresso internacional da  Core Energetics.

A descrição da “grande novidade” no meio terapêutico, chegou até mim, confesso, como algo que considerei meio mágico. Já vinha de algumas formações e imaginar que “pessoas que não se conheciam e muito menos às suas histórias familiares, eram utilizadas como representantes de pessoas reais, e em alguns minutos, se desdobrava uma trama familiar e encontrava-se soluções para este sistema, através de alguns movimentos e falas ditas por um facilitador” … era um pouco demais: bom demais, fácil demais, profundo e simples demais, enfim: mágico demais!

Como o entusiasmo destes colegas também foi muito grande e eram pessoas sérias e dignas da mais alta confiança, a nossa curiosidade por conhecer às Constelações também foi crescendo. Um dia nos decidimos a convidar o Prof. Lorenz para vir a Salvador-Bahia nos ensinar este trabalho.

Recordo que a primeira turma iniciou às vésperas de um  Natal, e apesar da dificuldade da data disponível,  tínhamos esperando pelas constelações, um grupo com mais de 40 psicoterapeutas, baianos, paulistas, mineiros, alagoanos, sergipanos, pernambucanos, brasilienses, enfim, um grupo que tornou-se a primeira geração desta formação que até hoje coordenamos, e que desde a quarta geração não mais em parceria com o Prof. Lorenz, mas com a Dra Úrsula Franke e seu staff de grandes professores da Alemanha e da Austria: Tom Brison, Dra Guni Baxa,  Christine Blumenstein, Karin Schoeber, Frank Gallenmüller e Laszlo Mattyasovszky. E em cada geração um outro professor experiente e especializado acrescenta um tema específico.

No princípio, os cursos foram quase restritos a psicoterapeutas, oriundos das mais diversas abordagens, mas especialmente, da terapia sistêmica e da terapia corporal,  mas com o tempo, foram ampliando-se para outros profissionais de diferentes áreas de atuação.

É uma grande alegria ter trazido para o Nordeste, junto com Cátia Lymma esta formação. Estamos hoje na quinta geração da mesma aqui na Bahia e através dos anos, este trabalho tem crescido, mudado de forma, de programa curricular, de parceiros de caminhada, mas, para mim, é cada vez mais impressionante, consistente, importante e valioso. Ver e experimentar como este método pode ser a um só tempo, constante e tão criativamente diverso, ao se misturar com o ser, as referências  e a  alma de cada professor, é algo também fascinante. Ter tido contato com cada um destes mestres da Constelação, foi essencialmente importante na minha própria formação e amadurecimento enquanto profissional.

Não era novidade para mim o olhar e as intervenções sistêmicas, visto que a minha primeira formação era como terapeuta sistêmica, o que havia me permitido atender além de pacientes individuais, casais e famílias, já por alguns anos. Mas o aprendizado das Constelações trazia tantas nuances, tantas possibilidades e tamanho alcance de intervenção, como eu jamais supus que seria possível dentro do universo terapêutico.

E, com isto, cresce também a responsabilidade e o desejo de aprender. Por esta razão, até hoje, assisto a todos os módulos das nossas formações, com, eu diria, maior curiosidade e espanto que no início. É muito grandioso poder aprender, reaprender, descobrir algo ainda mais profundo de um trabalho que é em aparência tão simples…

Dez anos de Constelações Familiares: diversidade e aprendizagem contínua

Quando olhamos ao campo depois desse tempo, temos hoje na Bahia uma grande quantidade de profissionais que trabalham com as Constelações, especialmente na psicoterapia. Este trabalho trás  algo novo e desafiante, e podemos vivenciá-lo nos grupos de supervisão e grupos terapêuticos formados pelos alunos, colegas e clientes.

E os clientes?

Com relação aos meus clientes a visão que adquiri através das Constelações provocou uma mudança radical. As mudanças passaram a ocorrer de forma muito mais rápida, o tempo de terapia em geral mais breve e para muitos clientes o espaço entre as sessões tornou-se absolutamente flexível, podendo ocorrer sessões que se distanciam até em meses.

Hoje é comum que eu veja, mesmo no espaço da terapia individual, um cliente, apenas por uma ou duas vezes. Ele pode vir por orientação de outro terapeuta ou de alguém que conheça ou tenha experimentado uma constelação. Vem apenas com o intuito de constelar e com isto determina a brevidade do nosso encontro. Eventualmente, chega até mim a notícia de que aquele único encontro moveu coisas profundas na sua vida, ou ainda mais, no campo do seu sistema familiar. Gosto de chamar a estes momentos de “saltos quânticos” da terapia.

Gostaria de ressaltar, contudo, que a brevidade do processo não é uma regra. Tenho grupos terapêuticos com base nas constelações que existem há muitos anos e que tornaram-se uma espécie de apoio para as pessoas para as diversas situações da vida então. Com estes grupos eu aprendi que é possível ajudar um cliente a sustentar o que muitas vezes é movido numa constelação, mas que com o tempo se perde, às vezes pelo simples retorno a um antigo padrão. Observei que as minhas outras referências e formações ajudam aos grupos caminharem e se descobrirem através de outras formas que se combinam e apóiam as constelações. Não suponho que as constelações sejam sempre a solução definitiva para tudo e nem que funcionem sempre de forma tão fácil quanto aparentemente acontece.

Integrando constelações com outras abordagens desenvolvi um trabalho entre a mitologia e a psicologia com base nos arquétipos do feminino personificados pelas deusas gregas, e em parceria com José Nivaldo Sobral, diretor da escola de Biodança da Bahia, workshops que combinam Constelações e Biodança. Nestes aparecerem questões relativas ao povo baiano e à sua ancestralidade: Efeitos da escravidão, da exploração indígena e escrava, sobretudo para clientes oriundos das terras de cacau do sul da Bahia, podemos ver  seus reflexos na vida atual dos clientes, décadas e centenas de anos depois.

Resumindo, para mim Constelações são algo ainda mais mágico do que pareceu há 12 anos atrás, só que num sentido positivo e eu o aceito com humildade e gratidão.

Marise Sampaio Dias
(*) Artigo publicado em 2012 na Revista Conexão Sistêmica Sul no 2.


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