À medida em que a mulher trabalha terapeuticamente, a partir da linguagem das deusas, ela penetra o universo da psique feminina e obtém um modo claro e bastante eficaz de descrever, analisar – e ver analisado – o próprio comportamento, atitudes, escolhas, padrões de personalidade e relacionamento, bem como –e seguramente o mais importante – obtém um modo objetivo de visualizar e buscar dentro de si, as qualidades necessárias para superar suas dificuldades e crescer para além das limitações que lhe foram impostas e/ou que elas próprias se impuseram e criaram para suas vidas.
Torno minhas afirmações mais claras a partir de exemplos concretos:
Uma mulher que é mãe dedicada, que vive e se realiza através dos filhos, e que tomada por tal tarefa decide abandonar a faculdade para ser mãe em tempo integral, terá a chance de fazer uma leitura muito objetiva de si mesma e das suas escolhas, ao conhecer e se identificar com a deusa mãe.
Com facilidade, esta mulher concluirá: “Sou como Deméter e provavelmente quando meus filhos crescerem e se tornarem independentes, estarei perdida e sem rumo. O que me restará?
Isto porque, o mito da deusa Deméter, oferece a esta mulher uma antecipação de um padrão de sofrimento e dificuldades psicológicas que seguramente serão sentidas se a vida imitar o mito e esta mulher não puder ir além das escolhas arquetípicas feitas pela Deméter.
No entanto, através do conhecimento das deusas, ela também se recordará que em sua trajetória teve uma conexão com Atenas, quando decidiu fazer uma faculdade motivada pelos ideais de realização desta deusa, e podendo estar um pouco livre da dominação de uma só deusa, descobrirá outros potenciais de realização dentro de si. A partir desta abertura e desenvolvimento de outros aspectos e possibilidades (deusas) em si, o padrão de sofrimento inerente ao mito da Deméter poderão ser evitados.
É claro que esta mulher continuará amando e cuidando dos seus filhos e provavelmente esta será a sua principal fonte de satisfação, mas, ela saberá que suas possibilidades serão infinitas e de acordo com suas próprias escolhas ela optará por quais deusas desenvolver.
Ela poderá retomar seus estudos concluindo o seu curso (Atenas); ela poderá dar mais energia e atenção ao seu relacionamento com o marido (Hera) e decidir que, além de mãe, é também mulher, e com isto tratar-se com mais amor e buscar o prazer nas pequenas coisas (Afrodite). Com tudo isto, estará colocando-se numa posição de ser até uma mãe (Deméter) mais positiva para os filhos, fugindo assim das armadilhas da deusa e lhes garantindo por exemplo, o direito de tornarem-se independentes, dando o espaço para que cresçam.
Um outro exemplo interessante, pode ser obtido a partir de uma mulher com estrutura arquetípica totalmente inversa. Extremamente independente e bem posicionada profissionalmente, por volta dos 35 anos, esta mulher percebe o seu vazio afetivo, a sua solidão e a ausência de prazer em sua vida. Não será difícil, tecer pela revisão das suas escolhas e trajetória de vida, a sua conexão com as deusas Ártemis e Atenas, tanto em suas realizações positivas, quanto em seus aspectos negativos.
Felizmente, temos a chance de rever e refazer escolhas, quando nos tornamos conscientes das forças que nos movem externa e internamente, e esta mulher terá a possibilidade de cultivar Hera e Afrodite em sua vida. Pouco a pouco, será capaz de ir depondo as suas armas e ir se abrindo para a própria vulnerabilidade e sentimentos.
Tem sido uma experiência absolutamente fascinante, acompanhar nos últimos anos um grupo regular de mulheres, que se reúnem a cada 15 dias e dezenas de exemplos que, como estes, nos contam histórias de transformação e crescimento, a partir deste conhecimento, que gera autoconhecimento.
Através das vivências e das partilhas em grupo, as vemos tomando contato com as deusas excluídas e que se tornam concretamente conhecidas através dos depoimentos e escolhas das outras mulheres; na mesma medida em que ensinam e apóiam as outras mulheres a tomarem contato com o que lhes falta através da sua própria experiência e influência, no modo de perceber as situações e se posicionar ante cada desafio. É um encontro de deusas!
Nos causa muito prazer ver estas mulheres caminhando livremente e com segurança rumo à própria integração e integridade; entre lágrimas, risadas, e deste jeito tão feminino! Com respeito pelas diferenças e pela própria autonomia; conscientes de que lhes cabe dar sentido e rumo à própria vida.
Por Marise Sampaio Dias