As constelações familiares prestam um enorme serviço às relações de casais em inúmeros aspectos, porém hoje, gostaria de abordar um dos que considero dos mais relevantes e que vai além da possibilidade de alcance de outras terapêuticas, incluindo a terapia de casal.
Trata-se da percepção do grande e forte impacto e influência das famílias de origem na dinâmica dos casais e das possibilidades de resolução.
Este costuma ser um dos pontos mais importantes e também mais delicados quando temos como cliente um casal ou alguém interessado em vivenciar com mais plenitude um relacionamento.
Em geral os parceiros sequer percebem o quanto estão, cada um, profundamente envolvidos com os valores, padrões de relacionamento, maneira de viver e percepção do mundo da sua família de origem, e mais especialmente, pouco se dão conta do próprio emaranhamento em relação aos destinos vividos no seu clã, até porquê, estes não precisam ser conhecidos para serem sentidos e experimentados em gerações posteriores.
Sei que tudo isto parece muito complicado à primeira vista, e de fato envolve uma grande complexidade, no entanto, paradoxalmente, as constelações familiares proporcionam à pessoa ou casal envolvido, com grande rapidez e simplicidade, a percepção da dinâmica oculta para a questão que mais os inquieta num dado momento.
Ao contrário do que muitos imaginam, no contexto de uma constelação, não precisamos entender tudo ou sequer precisamos nomear um problema para sentir os efeitos de uma boa solução. Precisamos sim, estar abertos para a experiência que se concretiza a partir de novos paradigmas.
É claro que a terapia de casal continua sendo importantíssima, sobretudo para ajudar os envolvidos a ver a si mesmos e ao outro na dinâmica da relação, muito útil também como facilitadora para mudanças na comunicação a fim de torná-la mais clara e eficaz, para a percepção da influência das necessidades infantis insatisfeitas e como se manifestam no relacionamento, da evolução do casal em meio às crises e etapas naturais que constituem o ciclo vital das famílias, para a mediação de conflitos emergentes e em torno das diferenças culturais e na possibilidade de amadurecimento diante das diferenças individuais e aprendidas na família de origem, em como lidar com os traumas originários da infância dos parceiros ou vividos pelo casal, entre outras possibilidades. No entanto, a terapia conjugal não alcança a profundidade e toda a amplitude dos emaranhamentos sistêmicos.
A ampliação do campo de visão para tais dinâmicas, proporcionada pelas Constelações, tem se mostrado muito relevante para a real solução de questões que aparecem na relação do casal, mas que muito pouco tem a ver com os parceiros atuais, ou na dificuldade que algumas pessoas têm para encontrar um parceiro ou para estar num relacionamento de uma forma boa.
De um certo modo, as pessoas intuem isto através da sua impotência na busca de uma solução, e estão certas! O que elas vivenciam muitas vezes não se origina das suas personalidades nem da sua história comum ou biográfica. Estão imersas em um grande campo onde acontecimentos ocorridos, às vezes em muitas gerações passadas, ainda lhes atingem e influem mais do que se possa imaginar. Estes precisam ser vistos ou completados, referem-se a exclusões havidas no sistema, referem-se a padrões que fizeram muito sentido no passado e com isto ganharam a força para permanecer mesmo quando já inadequados, referem-se a tarefas não concluídas ou conflitos não resolvidos no passado ou presente familiar, compreendendo-se por familiar ao conjunto de seres e eventos que fazem parte do sistema (antepassados, cultura, valores, ex-parceiros, filhos ilegítimos, crianças dadas ou adotadas, crianças abortadas ou natimortos, etc).
Resumidamente podemos afirmar que as constelações oferecem ajuda e percepções muito diretas e profundas e oportunidades de verdadeiros saltos no crescimento e cura para as relações especialmente para aqueles que buscam caminhos de resolução de seus conflitos e não têm como saber dos próprios emaranhamentos pois estão cegamente enredados.
As evidências deste envolvimento cego e insconsciente, geralmente são trazidas à luz da consciência pelos “problemas” que não conseguimos resolver, pelas crises no relacionamento e pelos grandes conflitos conjugais que nascem de discussões aparentemente sem importância, pela doença ou sintomas físicos ou psicológicos, por reações exageradas diante de um fato ou quando simplesmente nos percebemos leais à nossa família de origem mesmo em aspectos que não gostaríamos de repetir, e é como se estivéssemos num velho filme cujo enredo se repete e na nova versão o seu personagem é uma imitação do que seus pais viveram ou a sua vida se tornou em síntese uma réplica do que foi vivido pela bisavó distante.
Portanto, se você está vivendo uma crise conjugal, antes de concluir que a melhor decisão seja se separar deste parceiro; e observe que, talvez a separação seja mesmo a melhor decisão; ainda assim, eu sugiro que gire sobre os seus calcanhares e olhe para o que está atrás de você, olhe para o seu sistema de origem, compreendendo que você é a essência dele e que provavelmente esta trazendo com a sua vida, um grande potencial de muitas dádivas, mas também influências e padrões que não precisam mais ser repetidos a partir daqui, mas que por uma lealdade muito maior do que a cabeça de um adulto pode compreender, é vivida na alma da criança que precisa pertencer a este sistema primeiro para obter e depois para manter a vida, como algo muito profundo.
Feito isto, experimente dizer na direção do seu sistema, incluindo além dos seus laços de consanguinidade, à sua cultura, e a absolutamente tudo que existiu, sim. Diga esta palavra simples: SIM! “Digo Sim a tudo que foi e a tudo o que é, com todos vocês no meu coração eu agora me viro e olho para o meu parceiro com a abertura de compreender que também ele é a essência do seu sistema e também para ele eu digo sim, com tudo o que foi e tudo que é…”
Depois… somente observe o que acontece em você, o que se passa no seu corpo, no seu olhar e no seu coração, e virando-se mais uma vez para o seu parceiro, você talvez deseje lhe dizer, além deste SIM. “Muito Obrigada!”
Acredite, a influência das famílias de origem nos casamentos é muito maior e mais importante do que temos imaginado, e a clareza de nosso lugar e forma de pertencimento a ela pode alterar completamente o curso da nossa vida e dos nossos relacionamentos.
Marise Sampaio Dias é diretora do Instituto 89, psicoterapeuta, terapeuta de Casais e Consteladora. Coordena e faz parte da equipe de professores da Formação internacional em Constelações Familiares e Sistêmicas.