Não há dúvida: nosso cérebro pensa de maneira espacial.
Como poderia o cérebro gerar emoções, sentimentos, ideias e ego? Em seu livro, “E o cérebro criou o homem”, o neurofisiologista António Damásio descreve de forma muito clara, como o nosso cérebro monitora continuamente o estado de cada célula do corpo. Desta forma, construímos uma imagem espacial do mundo em que vivemos.
Outras pesquisas mostram que também crianças que nasceram cegas vivem o mundo na forma de imagens. Eu, no trabalho de coaching, também recebo continuamente a afirmação de que nossos pensamentos são desenvolvidos seguindo estruturas espaciais.
Sempre me surpreendo que, na prática de gestão e consultoria, isso seja um fato que não é amplamente considerado.
Recentemente tive um caso em que apareceu de uma forma particularmente evidente que erros e resistências podem surgir do fato de que, no mapa mental de uma situação, diferentes conceitos e atores são sobrepostos e mesclados.
O meu coachee era o diretor da sucursal de uma agência comercial. Ele tinha assumido esse cargo há pouco tempo e foi chamado para preencher a posição de seu antecessor considerado fraco demais.
Sua tarefa era “colocar um pouco de ordem” na sucursal. Como era de se esperar, alguns colaboradores não aceitaram de bom gosto as novas regras que limitavam alguns privilégios obtidos anteriormente.
Em uma das últimas reuniões de equipe, o diretor ficou muito desapontado com o fato de os colaboradores terem se oposto a um projeto que eles mesmos tinham proposto. Ele não conseguiu se dar uma razão, a não ser identificar o comportamento como uma conspiração para o prejudicar.
Eu o convidei para representar a situação em uma Constelação de Gestão. É um método que permite reproduzir com símbolos colocados no chão ou na mesa uma imagem do mapa mental da situação que o cliente tinha criado, inconscientemente, com base nas várias observações.
Como elementos de representação no mapa, escolhemos a proposta, o diretor , os colaboradores contrários, os colaboradores a favor e os colaboradores indecisos.
A questão que procuramos esclarecer foi a seguinte: “O que levou os membros do grupo a se oporem à proposta?”
Fiquei surpreso com a configuração das folhas que o diretor colocou no chão.
No centro, quase superpostos, estavam o diretor e a proposta. Os vários gerentes foram colocados à volta em desordem.
Quando o diretor se colocou na própria posição, ele se sentiu cercado e ameaçado.
Convidei-o a colocar-se na posição dos colaboradores contrários para observar a situação do ponto de vista deles e imaginar as emoções e pensamentos deles.
“Eu sinto uma certa frustração e uma estranha ideia vem a mim: ele usurpou a nossa proposta.” No momento em que ele expressou esse pensamento, a frustração se tornou raiva.
Pedi para explorar a perspectiva dos colaboradores a favor.
“Daqui me custa expressar uma opinião clara. Sou a favor da proposta, mas me irrita o fato de que seja vinculada ao diretor. Eu sinto como se tivesse me pedido para trair os colegas”.
A partir da posição dos colaboradores indecisos sua reação foi: “me deixe em paz, deixe o diretor decidir”.
“Qual foi o seu erro?” perguntei.
“Eu vejo claramente, eu tentei ganhar a aceitação dos colaboradores fazendo uma proposta que era deles”.
Neste caso, o passo para sair da armadilha foi muito claro: deixar a posição central onde estava a proposta e aproximar-se dos colaboradores contrários, olhando com eles para a proposta. Com essa imagem em mente, conseguiu elaborar uma estratégia para levar a equipe à aceitação da proposta.
Eu conto esse episódio porque para mim ele destaca alguns aspectos importantes do pensamento humano:
Essas descobertas parecem muito estimulantes para um gerente, um consultor ou um coach. Elas abrem um grau de compreensão da realidade e uma liberdade muito importante para o nosso trabalho.
Na SysMaCon, são estudados esses fenômenos com a colaboração de parceiros internacionais há quase vinte anos e é desenvolvida uma série de técnicas e ferramentas altamente eficazes.
Texto elaborado por Georg Senoner em janeiro de 2017, traduzido por Jorge Manuel Fernandes Dias para a Formação em Gestão Sistêmica – Ferramentas Sistêmicas para Organizações do Instituto 89.